quinta-feira, 19 de julho de 2018

SAÚDE CRÔNICA: Precisamos falar sobre o suicídio

O vento soprava gelado naquela manhã. Sentado no ponto, enquanto aguardava o ônibus, eu observava a forma como a brisa balançava suavemente as folhas da árvore em frente. A cor azulada no início do dia contrastava com o amarelado das plantas secas e ajudava a tornar aquela paisagem bucólica, me fazendo pensar ainda mais no acontecimento dos últimos dias, o que deixava minha boca seca e com o amargo gosto da tristeza.

Há exatamente uma semana, às oito e meia da manhã, eu estava no trabalho pronto para escrever uma reportagem. Foi quando recebi a notícia que um colega havia se suicidado. Isso me atingiu como um raio. Fiquei tonto e precisei de uns minutos para tentar entender, mas foi em vão. Continuei perdido. Eu estava em choque!
Não conseguia acreditar que aquele rapaz novo, sempre sorridente e brincalhão havia tirado a própria vida. Busquei na memória por algum indício que ele pudesse ter deixado escapar e que o levasse a esse triste fim. Talvez ele tivesse dito uma palavra, algum pedido de ajuda silencioso, mas não fui capaz de encontrar nada. E aquilo me marcou. Será que eu ou outra pessoa poderia ter feito alguma coisa para ajudar?
Enquanto me sentava em uma cadeira mais afastada no ônibus, mantive a visão das folhas que balançavam. Já escrevi algumas reportagens sobre suicídio e sei que existem inúmeros motivos que podem levar uma pessoa a tirar a própria vida. Nenhuma que eu ache justificável, mas as razões estão lá. A depressão é uma delas, pois causa uma tristeza que dificulta ações simples como levantar da cama, comer, trabalhar ou estudar.
Eu entendo que por séculos o suicídio foi um assunto de certa forma proibido, por se acreditar que poderia influenciar outras pessoas. Essa ideia, chamada de “Efeito Werther”, vem do fato de que muitas pessoas tiraram a vida depois de ler o livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, do alemão Goethe, e assim se formou a ideia de que quanto menos o suicídio for exposto, menos ele pode influenciar outras pessoas.
Mas precisamos falar disso! Precisamos de informações sérias, corretas e sem glamour! Atualmente onze mil pessoas decidem tirar a vida no Brasil. E esse número está crescendo a cada ano. Por isso, o suicídio precisa ser discutido seriamente. É um problema real e não pode ser escondido nem das crianças. Nos últimos 10 anos o suicídio de crianças entre 10 a 14 anos aumentou 31%, e nos jovens de 15 a 19 anos, subiu 26%.
A maioria dessas mortes tem sinais claros e o primeiro passo para evitar que uma pessoa tire a própria vida é estar atento aos sinais verbais e comportamentais que ela dá. O sentimento de culpa por não ter visto esses sinais mata um pouco cada uma das pessoas que amam quem se foi. E vamos esquecer o mito de que quem fala sobre suicídio não tem coragem de concretizá-lo. Em muitos casos, a pessoa que passa por problemas e tem pensamentos extremos que podem levar ao suicídio, pode ser ajudada com uma conversa. E hoje, tudo que eu queria era ter conseguido, era conversar com meu colega.
De Janary Damacena, para Blog da Saúde LAZARO ROBERTO 


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